segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Isso Sou Eu! (Ou quase...)


MEMORIAL
Antonia Glosvalda Olinda Braga Correia
Assistente Social – CRESS 3859

 

  1. APRESENTAÇÃO

 

Ter que escrever esse memorial como parte das exigências para inscrição no Curso "Sofrimento Psíquico na Contemporaneidade" me pegou de surpresa. Não sabia bem por onde começar, e confessar isso talvez não seja uma boa ideia. Pode me deixar em desvantagem no momento da seleção. Talvez, mas tenho algo a dizer em meu favor: tenho 53 anos de idade (nasci em 08/02/1957), agora em agosto completei 30 anos de contribuição previdenciária (posso me aposentar, se quiser, mas vou ficar a mercê da compulsória), e tenho 24 anos de atividade acadêmica. Não sei ao certo o que isso pode ter a meu favor, mas algo me diz que sim. Moro em duas cidades: durante a semana estou em Marco, onde trabalho no CAPS, e nos finais de semana estou em Fortaleza, com meu marido (Eduardo), meus filhos, e meu pai, José Sérgio de Olinda, que hoje completa 89 anos de idade. Minha mãe, Maria Luiza Braga, reside em Iguatu. Está com 82 anos. Quando comecei a pensar na necessidade de reconstituir a minha trajetória profissional, as minhas memórias, e escrevê-las aqui, me empolguei tanto que ficou mais difícil ainda realizar a tarefa. Ainda sem saber muito bem por onde começar, decidi que o faria pelo ano de 2006, quando retomei o trabalho na minha área de formação acadêmica, que é o Serviço Social, após 11 anos como professora de Língua Portuguesa. Apenas. Graduei-me no final de 1986, pela UECE, ano em que nasceu também o meu filho Bruno Alexander, caçula de 04(quatro) filhos. Todos nascidos no decorrer do meu curso de Serviço Social. Fui aprovada no segundo vestibular de 1979, mas na época trabalhava em Iguatu, e fiz matrícula institucional ou tranquei a faculdade umas duas ou três vezes. Até que vim residir em Fortaleza, e passei a cursar normalmente as disciplinas. Ou quase, porque em 1982 nascia a minha primeira filha, Suyanne, em 1983 nasceu o segundo, Sérgio Luis, e em 1985 veio o Eduardo, meu terceiro filho; a essa altura eu já vinha cursando a faculdade a passo de tartaruga, o que junto com as greves da UECE, fizeram com que eu levasse quase 08 anos para me formar. Enquanto fazia a faculdade e paria os meus filhos, trabalhava em um posto de benefícios do INSS; concluído o curso, comecei a trabalhar em um Projeto de Epilepsia e Neurose do CRP - Centro de Reabilitação Profissional do INSS, trabalho desenvolvido por uma equipe multidisciplinar (assistente social, psicólogo, neurologista, terapeuta ocupacional e outros). Mudamo-nos, minha família e eu, para a cidade de Cascavel, no litoral cearense, e passei a me interessar pelo magistério. Aliás, já havia dado aulas na adolescência, quando ainda morava em Iguatu. Foi pouco tempo, e eu nem sabia ao certo o que estava fazendo, mas a paixão foi retomada em 1994, quando comecei a dar aulas de Português no Colégio Cascavelense, fui tomando gosto, fui ficando, e mesmo quando voltamos a morar em Fortaleza, em 1999, os filhos já entrando para o Ensino Médio, continuei a me deslocar diariamente para Cascavel, ainda dando aulas no Cc(Colégio Cascavelense). Ao mesmo tempo lecionava em alguns cursos sequenciais da UVA, em Fortaleza, e me habilitei para o ensino de Língua Portuguesa, Sociologia e Filosofia pela UECE, no Programa Especial de Formação Pedagógica. Como professora, participei de inúmeros Simpósios, Seminários e Encontros, e estaria ainda hoje dando aulas, não fosse outro forte chamado a que não pude resistir. Em 2006 recebi uma proposta para trabalhar com o Secretário de Ação Social e Desenvolvimento Local do município de Monsenhor Tabosa, Ceará, e aceitei. Fiquei por 10 meses. Lá eu elaborava e desenvolvia projetos voltados para a aplicação dos Programas Sociais do Governo, o que foi muito importante, pois me fez retomar o gostinho pelo serviço social. E foi por essa época que eu vim a conhecer o projeto CAPS, que estava em vias de implantação no município, e percebi que era isso que eu queria fazer de verdade: trabalhar no campo da saúde mental. Passei a me interessar pelo assunto, divulguei para os amigos e por um deles fiquei sabendo que o CAPS de Marco estava precisando de uma assistente social; telefonei para o secretário de saúde que me contratou de imediato, e alguns meses depois a prefeitura realizou concurso público. Fui aprovada, e lá estou até hoje, tendo assumido a função de coordenadora desde setembro do ano passado. Olha só, aniversário de 01 ano!
  1. MOTIVAÇÃO PARA FAZER O CURSO

     
Trabalho no CAPS de Marco há quase 04 anos, o que talvez não pareça muito tempo, mas é; são 04 longos anos de aprendizado e trabalho intuitivo, baseado apenas na observação diária das necessidades trazidas pelas pessoas que são acompanhadas no CAPS. Um trabalho que eu tento aperfeiçoar a cada dia, fazê-lo cada vez melhor. Dá para acreditar que eu nunca fiz nenhum curso que me preparasse para realizar o meu trabalho junto ao CAPS? Até comecei uma especialização à distância, em um instituto de Maringá, no Paraná (Instituto Eficaz), e cheguei a concluir 05 módulos, mas foi ficando impossível acompanhar as aulas só pela internet, pois aqui em Marco eu ficava às vezes uma semana inteira sem conseguir acessar o material para estudo, acabava me atrasando nos conteúdos e me sentindo prejudicada. Sem contar que eu comecei o curso acreditando que haveria aulas presenciais, em Fortaleza, o que não aconteceu. Mas venho participando com frequência, nesses últimos 04 anos, de encontros, jornadas, seminários e congressos sobre o tema saúde mental realizados em Fortaleza, participei da XV Jornada Quixadaense de Saúde Mental e Cidadania em Quixadá, e na cidade de Iguatu participei de dois congressos de saúde mental. Essas participações representam momentos riquíssimos em minha vida profissional, muito do que faço e realizo foi trazido e aprendido nesses encontros. Conheci pessoas que me fizeram amar cada vez mais o meu trabalho, e me deixar mais inquieta e sedenta de ser melhor no que faço. Então essa é a minha motivação principal: a necessidade que eu sinto de conhecer mais do trabalho que tanto me fascina, entender melhor as dores da alma e da mente que, a cada dia que passa, mais toma conta dos seres humanos. Acho incrível (e apavorante) a facilidade com que as pessoas se utilizam de termos como "depressão", "psicose", "esquizofrenia" e outros, atribuindo rapidamente a si mesmo ou a outros essas doenças, de uma forma banal e corriqueira. Assim como quem diz que pegou uma gripe. E eu estou falando de pessoas sem muito ou com nenhum conhecimento acadêmico ou lingüístico, que se apropriam do termo e dele fazem uso como se não tivessem dúvidas sobre o que afirmam. O mundo atual caminha para uma maioria de pessoas portadoras de algum tipo de sofrimento psíquico: compreender melhor esse universo e perceber novas formas de lidar com esse sofrimento me incentiva e me faz querer demais fazer esse curso.
  1. APLICAÇÃO DO CURSO: ONDE E COMO APLICAR

     
A princípio, eu poderia dizer que a aplicação do que será aprendido nesse curso se dará no próprio CAPS aonde trabalho. E assim é. Mas é preciso reconhecer que essa aplicação vai além do ambiente de trabalho, muito além inclusive, dos próprios usuários e seus familiares, clientela primeira a ser beneficiada. Todo o trabalho nos Centros de Atenção Psicossocial é voltado para a construção do que está quebrado, digamos assim, no portador de doença mental usuário do serviço. E nele, em geral, tudo está quebrado: a auto-estima, as relações familiares e comunitárias, a cidadania, e própria consciência de "ser" ou "pertencer". Ele se acha um nada, e não se sente fazendo parte de nada. Pensar isso é doloroso, imagine sentir isso. Creio que essa percepção deva estar presente em toda a equipe de profissionais que se propõe a desenvolver um projeto terapêutico.
  1. CONTRIBUIÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL NA CONTEMPORANEIDADE

     
Novas formas de sofrimento surgem a cada momento, explicadas talvez pela constante busca do homem por respostas. Lembro de uma cartilha que li na infância, ainda no grupo escolar, que trazia um homem desenhado em preto e branco, e sobre sua cabeça um balão com as perguntas: Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? Acho que era um livrinho do catecismo, e todas as respostas convergiam para Deus e sua centralidade em tudo que éramos ou fazíamos. "Sou um filho de Deus, vim de Deus e vou para Deus". Essas respostas bastavam para a grande maioria das pessoas. A minoria que não aceitava só isso acabava desenvolvendo um sofrimento enorme que os deixava doentes. Mas era só uma minoria, mais fácil de tratar. Atualmente, com a rapidez com que se dão as mudanças e a (r) evolução das ciências, o homem não se contenta mais com essas respostas simples e diretas. Mesmo quando ele acredita que é um filho de Deus, veio dEle e vai para Ele, ainda assim as respostas parecem incompletas, ele quer mais, ele precisa de mais. E essa inquietação acaba gerando um desconforto, uma insatisfação que faz com que ele, insatisfeito, se comporte de uma forma estranha aos olhos das outras pessoas, passando mesmo a sensação de sofrimento e angústia gerados pela dificuldade ou impossibilidade de encontrar as respostas de que precisa. Adoecendo, ele expressa esses sentimentos. E agora é uma grande maioria que passa por isso! Numa área tão pouco conhecida, onde as doenças e os sofrimentos também evoluem com a mesma ou com maior rapidez, a preocupação com o tema é sempre bem vinda; um curso como esses, com certeza vai gerar novos conhecimentos e formas de abordagens na área, e eu quero estar perto para vivenciá-las.
Marco-CE, 12 de setembro de 2010.

 

 

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